Em um mundo cada vez mais integrado à Inteligência Artificial, com a exigência cada vez maior do domínio de ferramentas tecnológicas para a vida cotidiana e o mercado, algumas profissões resistem e provam que sem o trabalho manual não há sistema que funcione.
Pensando nisso, o Relíquia desta semana conta a história do artífice José Carlos Raimundo, de 61 anos. Há 13 anos no Centro de Operações, o então técnico em contabilidade decidiu seguir novos caminhos e sair da monotonia do trabalho administrativo.
O TRABALHO NO CENTRO DE OPERAÇÕES
Zé Carlos, como é conhecido aqui no Centro de Operações, é um dos cinco funcionários que trabalham na manutenção do prédio. Ele é o responsável pelo sistema hidráulico.
“Aqui ainda tem o coordenador, o mecânico de refrigeração, o eletricista, o ajudante e o artífice. Eu sou mais pra área hidráulica: vejo a torneira, bebedouro, banheiros, pra ver se tem algum vazamento. Além da caixa d’água, cisterna. Meu papel é não deixar faltar água no prédio. E tem outras coisas também, como trocar cadeiras e mesas quebradas.”
Após quase duas décadas dedicando-se ao setor administrativo, o artífice destacou a autonomia na rotina como um dos pontos altos no trabalho.
“Hoje em dia eu gosto muito mais do meu trabalho, sabe? Ficar preso dentro de um escritório, numa sala, não é comigo. Eu chego e já faço minha rotina. Vou ver caixa d’água, assistência, se bomba tá funcionando direitinho, vou dar uma rodada pelos banheiros, ver se tá tudo ok, se não tem vazamento. Então eu gosto muito mais dessa dinâmica pra trabalhar.”
HABILIDADE MANUAL É UM DOM ATEMPORAL
Mudar os caminhos profissionais é sem dúvidas um desafio, mas quando se descobre uma vocação? Zé Carlos reconhece a habilidade de consertar coisas como um dom divino.
“Eu não sabia dessa minha habilidade de consertar as coisas. E tô sempre aprendendo no dia a dia, eu não sei consertar tudo, mas acredito que Deus me capacita e também sou muito curioso.”
Pensando na relação da profissão com o mercado no futuro, ele defendeu a valorização e a atemporalidade do trabalho manual em todos os segmentos.
“Acho que é um trabalho que deveria ser muito mais valorizado, porque sem ele nada funciona. Sem os trabalhadores da manutenção, você não tem luz, não tem água, não tem instalações. A própria tecnologia precisa do nosso trabalho para poder funcionar. Imagina o Centro de Operações sem água ou sem energia? Não poderia funcionar.”
CASA DE FERREIRO, ESPETO DE PAU? NÃO PARA QUEM GOSTA DO QUE FAZ
Morador, nascido e criado em Japeri, na Baixada Fluminense, Zé Carlos é constantemente acionado por familiares e vizinhos para consertar as coisas. Mas, para ele, isso não é um problema.
“Minha mulher e meus filhos sempre me pedem as coisas. Essa semana minha cunhada foi lá em casa e levou uma panela elétrica que estava com a tampa ruim, e pediu meio sem graça pra quando eu pudesse tentar dar um jeito. Na mesma hora eu tirei o parafuso, ajustei e consegui consertar. Não me importo em ajudar, gosto de solucionar problemas e estar sempre aprendendo coisas novas.”